Amor sem monopólio
Desde a mais tenra idade ouço a frase "amo a liberdade, por isso deixo as pessoas que amo livre; se voltarem é porque as conquistei; se não voltarem é porque nunca as tive" ou outras do gênero.
Quanto mais vou amadurecendo, mais vou entendendo e percebendo como essas premissas fazem sentido.
De fato, o amor só funciona quando em liberdade. Aliás, se não tem liberdade, não é amor.
A ideia de se ter as pessoas, de querer possuí-las e controlá-las é reflexo claro de nossa inabilidade em amar o outro como ele é de verdade. Em permitir que cada um viva de acordo com a própria essência e a própria natureza. É como amar uma bela ave pelo seu voo gracioso ou seu canto fascinante, mas aprisioná-la em uma gaiola para que deixe de cantar e voar.
A maioria das pessoas acredita que prendendo o outro, seja através de cobranças, de ciúmes, de restrições, de alianças, etc, farão com o que o amor se fortaleça, mas nem desconfiam que assim só contribuem para que ele morra cronicamente até deixar de existir.
E o que tenho observado ao longo desses meus ínfimos anos, é que as pessoas não têm autossuficiência para serem felizes sozinhas e estão constantemente buscando no outro aquilo que julgam faltar em si mesmas, para que se sintam completas. Assim, acabam drenando muito mais do que oferecendo à relação, pois só se pode compartilhar e irradiar daquilo que estamos saturados. Só se pode dar muito de si quando se tem muito para dar e pouco a esperar.
Ter em mente que cada um é única e exlucusivamente responsável por si, pelo que sente, pela própria felicidade. Mais ninguém! E não podemos culpar o outro por isso. É por tudo isso que a insegurança e a vontade de reter e monopolizar as pessoas para si é pura ilusão que criamos para satisfazer nossos egos feridos; O medo de perder o outro é ilusão. Ninguém perde ninguém, porque ninguém possui ninguém!
Um amor aprisionado, confinado, enredado em sua própria teia é pássaro que não canta nem encanta. Fica triste, amuado, macambúzio. Bonito mesmo é pássaro que vem cantar todos os dias na sua janela simplesmente porque é nela que escolheu fazer seu pouso, e não na do vizinho. Porque dentre todas as milhares de janelas que há no mundo, foi a sua que o atraiu. Ele é livre para voar a hora que quiser, mas não quer, porque você o prendeu com laços invisíveis e inquebrantáveis, nessa dulcíssima prisão sem grades que é o amor nascido do simples desejo de ficar, de atar a sua vida à de outro ser humano.
Claro que aceitar a liberdade do outro demanda muita confiança. Difícil em tempos de facebook, instagram, whatsapp e outros mecanismos que facilitaram a aproximação (e a traição) entre as pessoas. Tenho uma amiga muito querida (e muito invocada) que vira e mexe questiona o marido: “Curtiu por quê? Tá querendo o quê?”. Mas aprender a confiar e a ser digno da confiança do outro é também um exercício diário de amar. Confiar: verbo transitivo, do latim “con fides”, com fé: certeza de que, sejam quais forem as circunstâncias, o outro não vai te sacanear.
Se me ama, deixe-me livre para ser quem sou.
